VIII COLÓQUIO DA ESCOLA DE PSICANÁLISE DOS
FÓRUNS DO CAMPO LACANIANO – REDE DIAGONAL BRASIL
Em cada canto, 2024
Tathyana Santiago
Pintura em tinta acrílica sobre tela, 20X30cm.
A (diz)função diagnóstica na atualidade
O VIII Colóquio pretende, com o tema diagnóstico, trazer à reflexão e ao debate os fundamentos e a função do diagnóstico na clínica psicanalítica.
Na atualidade, constata-se uma profusão de diagnósticos advindos do DSM-5 (2014), provocando uma crescente patologização da vida cotidiana. A essa situação, unem-se inúmeros problemas hoje existentes, como crises sociais, econômicas, ecológicas, políticas e demográficas, que interrogam nossa prática.
Se antes o diagnóstico psicopatológico podia significar uma temível, às vezes irreversível, inclusão jurídico-hospitalar ou exclusão moral-educativa, agora ele parece ter se tornado um poderoso e disseminado meio de determinação e de reconhecimento, quando não de destituição da responsabilidade do sujeito. (Dunker, 2015, p.33).
Diante disso, e de acordo com Lacan (1998), o analista precisa estar à altura do seu tempo para conseguir alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época.
A invenção freudiana deslocou o chamado adoecimento psíquico do registro do desvio normativo ao propor que o “adoecimento” é uma forma particular de o sujeito dizer a verdade do inconsciente, e não a expressão de uma incapacidade, subvertendo a função diagnóstica da sua época. Freud não pretendeu nem se propôs eliminar o sintoma nem o mal-estar na civilização. Ao preservar o sintoma como uma expressão da singularidade do sujeito, Freud seguiu uma via contrária à normatização então vigente.
Portanto o diagnóstico da clínica psicanalítica é irredutível a uma rotulagem classificatória universal, como propõe o DSM, e à rotulagem do sujeito através de categorias estruturais: histérica, obsessiva, perversa etc. Em psicanálise, o diagnóstico orienta-se pelo singular de cada caso, não pelo universal das estruturas clínicas. Trata-se de uma clínica do caso a caso: os sujeitos de um tipo, portanto, não têm utilidade para outros do mesmo tipo. E é concebível que um obsessivo não possa dar o menor sentido ao discurso de outro obsessivo (LACAN, 2003, p. 554).
Segundo Soler, as categorias psicopatológicas orientam sobre a estrutura, não tanto da pessoa, senão sobre a estrutura do material clínico que o paciente apresenta (1996, p. 26). Nesse contexto, na psicanálise, a direção do tratamento e o processo de diagnóstico não se separam.
O tratamento coloca em primeiro plano a posição do sujeito em relação ao seu sofrimento, articulada à transferência e ao desejo de analista. O diagnóstico não deve incidir exclusivamente sobre o sintoma, pois se situa além dos fenômenos, uma vez que se trata de verificar a posição do sujeito do inconsciente diante do Outro.
O que fornece os elementos fundamentais para se pensar o diagnóstico, em psicanálise, são as articulações entre saber e verdade, acessíveis por um semidizer em que o sujeito se articula com o sentido do seu desejo e sobre seu modo singular de gozo – ponto do real da estrutura.
Com o avanço do seu ensino, Lacan propõe uma nova clínica a partir da introdução do nó borromeano, e discutir a questão do diagnóstico nesse contexto também é fundamental. Conforme Soler, esta clínica propõe uma nova sintomatologia […] e uma nova construção teórica que funda-se na relação dos registros do imaginário, do simbólico e do real (Soler, 2018), quando as estruturas subjetivas são orientadas em sua singularidade pela nominação paterna, que sustenta o sujeito. (LACAN, [1974-1975]).
A Comissão Científica convoca todos a inserirem-se neste importante debate. Até breve!
Comissão Científica do VIII Colóquio:
Roseli Rodella (Coordenação), Felipe Pessoa, Marcia Assis, Marcia Polido, Margareth Felipe, Margaret Pisani, Silvia Franco.
REFERÊNCIAS
DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. American Psychiatric Association, Tradutor Aristides Volpato Cordioli, Porto Alegre: Ed. 2014.
DUNKER, C. I. L. Mal-estar, sofrimento e sintoma: uma psicopatologia do Brasil entre muros. São Paulo: Boitempo, 2015.
LACAN, J. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
______. (1974-1975). Seminário 22, R.S.I., inédito.
______. (1973). Introdução à edição alemã de um primeiro volume dos Escritos. In: Outros escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
SOLER, C. Los diagnósticos. Revista Freudiana, XVI (pp.21-33), Barcelona, Publicación de la Escuela Europea de Psicoanálisis de Catalunya, 1996.
______. A querela dos diagnósticos. Tradução Cícero Alberto de Andrade Oliveira, Elisa Touchon Fingermann; revisão da tradução e revisão técnica: Sandra Leticia Berta. São Paulo: Ed. Bucher, 2018.
DATAS:
31 de outubro a 02 de novembro de 202
LOCAL:
Memorial de Sergipe – Prof Jouberto Uchôa – Aracaju-SE
https://maps.app.goo.gl/EPmkMkBSLFQwePPe6?g_st=iw
INFORMAÇÕES:
comissaoorganizacao24@gmail.com